O governo Bolsonaro terá 22 ministérios. São 7
a menos que os atuais mas também são 7 a mais do que ele prometeu na
campanha. Eu sou o André Shalders, repórter da BBC News Brasil em São Paulo, e neste vídeo
vou te contar quem é quem na equipe que vai governar o Brasil a partir do dia 1º
de janeiro. Eu vou em ordem alfabética, mas vou deixar para o fim os 4 mais
importantes, aqueles que vão governar com o Bolsonaro dentro do Palácio do
Planalto. Nem todo mundo que é ministro de fato tem o nome Ministério no órgão que
ocupa: é o caso do primeiro da nossa lista, o chefe da Advocacia Geral da
União. É a AGU que aconselha e representa legalmente o governo. O
Ministro-Chefe da AGU será André Luiz de Almeida Mendonça, um servidor de
carreira do executivo formado pela Faculdade de Direito de Bauru e que hoje
trabalha na Controladoria Geral da União, a CGU. Lá ele foi bem importante na
negociação dos acordos de leniência das empreiteiras da Lava Jato, ou seja, tem
experiência no combate à corrupção Bolsonaro terá duas ministras mulheres:
uma delas é agrônomo e deputado do DEM do Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina,
que vai chefiar o Ministério da Agricultura. Na Câmara, ela foi presidente
da frente parlamentar da agropecuária Ganhou dos críticos o apelido de musa do
veneno, por defender menos restrições para o uso de agrotóxicos. Ela representa um setor
importante da economia brasileira e que tem também a maior bancada temática da
Câmara. É justamente a bancada ruralista que deu aquele empurrãozinho para
ela conseguir a vaga de ministra. Para o Banco Central, Bolsonaro e seu guru
econômico Paulo Guedes escolheram o economista Roberto Campos Neto. Como o
nome diz, ele é neto do economista liberal Roberto Campos, que foi muito influente no
Brasil e que já faleceu. O nome do cargo é Presidente do Banco Central, mas essa
pessoa também tem status de ministro Hoje, Roberto Campos Neto trabalha no
Banco Santander. Osmar Terra comandará o Ministério da Cidadania, que é uma fusão
das pastas de Esporte, de Cultura e de Desenvolvimento Social. Essas áreas não
desaparecerão com cortes de ministérios, elas serão aglutinadas em um novo guarda
chuva. Este ano, Osmar Terra foi reeleito para o seu quinto mandato pelo MDB do Rio
Grande do Sul e fez parte do governo de Michel Temer. É médico de formação e tem
como prioridade o cuidado com a primeira infância. É também contra a legalização
das drogas. Políticas com o Bolsa Família, por exemplo, estarão sob sua
responsabilidade. Para Ciência e Tecnologia, Bolsonaro escolheu o astronauta Marcos Pontes, filiado ao PSL. Ele foi tenente coronel
da Força Aérea e é o único brasileiro que já viajou ao espaço. Ele chegou até lá
em 2006, a bordo da nave russa Soyuz. Pontes é engenheiro formado pelo ITA –
InstitutoTecnológico da Aeronáutica. Ele é o primeiro militar, no caso dele, da
reserva, que a gente menciona aqui Contando com ele, serão 7 militares no
primeiro escalão A Controladoria-Geral da União é uma
espécie de fiscal do dinheiro do governo A pasta vai continuar sob o comando do
ministro atual Wagner Rosário. Ele é servidor concursado da CGU, mas teve
formação superior militar na Aman – Academia Militar das Agulhas Negras, no
Rio. Depois, fez mestrado na Espanha, sobre o tema do combate à corrupção. Ele é
capitão da reserva do Exército. Na campanha, Bolsonaro disse várias vezes
que não abrirá mão de colocar um general de quatro estrelas no Ministério da
Defesa. Agora quem vai ficar com a pasta é Fernando Azevedo e Silva, general da
reserva Antes de aceitar o convite do
Bolsonaro, ele era assessor do atual presidente do STF, Dias Toffoli. Tem um
longo currículo nas forças armadas e foi chefe, por exemplo, da autoridade pública
olímpica dos jogos do Rio de 2016. De uma outra fusão, surgiu o Ministério do
Desenvolvimento Regional, que une as pastas de Cidades e Integração Nacional.
No comando, um servidor de carreira do executivo, Gustavo Canuto. Ele é o atual
número dois da hierarquia do Ministério da Integração e é engenheiro, formado em
Engenharia da Computação pela Unicamp Uma curiosidade: o salário de um ministro
de Estado do Brasil é de R$ 30 mil e 900, mas não é comum que a
renda deles ultrapassa esse valor por causa de cargos anteriores e outras
atividades do governo, como os conselhos de estatais. Quem não lembra do Bolsonaro
falando na campanha que ia consultar o Posto Ipiranga? Que era uma referência àquela propaganda que dizia “ah, pergunta lá no posto”. Pois é, Paulo Guedes não vai ser
apenas o ministro da fazenda como os outros. O Ministério da Economia que ele
vai comandar é uma junção da Fazenda com o Planejamento, com a pasta de Indústria,
Comércio e Serviços. É por isso que chamam de super-Ministério. Guedes é economista
formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, mas fez doutorado na
Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
Ele é um dos fundadores do Banco Pactual e sócio majoritário do Grupo BR
Investimentos, ou seja, entende bastante de mercado financeiro. É adepto do liberalismo econômico e defende que o Estado
intervenha menos na economia, por exemplo, com amplas privatizações de empresas
públicas, tipo Eletrobrás, Cedae e Petrobras.
A grande pergunta na área econômica é qual será de fato a autonomia do Paulo
Guedes e como duas personalidades bastante fortes vão se equilibrar em
temas como reforma da previdência e privatizações, por exemplo. O governo
Bolsonaro também vai ter dois ministros que foram indicados pelo guru da direita,
Olavo de Carvalho. Vamos lembrar que Bolsonaro tinha sobre sua mesa três
livros quando fez o discurso da vitória nas eleições:
um era uma biografia do Winston Churchill, que foi primeiro ministro do Reino Unido durante
a 2ª Guerra Mundial. A segunda era uma bíblia e depois tinha um livro do Olavo
de Carvalho. Inclusive, meu colega João Fellet fez um perfil muito bom dele. “Eu
fui até a casa de Olavo de Carvalho em Virgínia, nos Estados Unidos.
Entrevistei ele e a gente vai colocar o link dessa reportagem aqui embaixo”.
Quem são as indicações do Olavo de Carvalho? Uma delas é o ministro da
Educação, filósofo e teólogo Ricardo Veléz Rodrigues.
Ele nasceu na Colômbia e é brasileiro naturalizado. Formado em Filosofia e
Teologia em Bogotá, fez mestrado e doutorado em Filosofia no Rio, na década
de 1980. É um crítico da teologia da libertaçã,o que é aquela ala de esquerda
da Igreja Católica, e um defensor de valores conservadores no campo dos
costumes. O segundo indicado por Olavo de Carvalho foi para o Ministério das
Relações Exteriores É Ernesto Araújo, um diplomata de carreira do
Itamaraty. Ele defende que o Brasil se aproxime dos Estados Unidos e de Israel.
No Itamaraty, ele trabalhava justamente no departamento responsável pelas
relações com os Estados Unidos. Fez graduação em Letras na Universidade de
Brasília. Outra área muito importante que estará com os militares é a área de
infraestrutura. Para comandar essa pasta a equipe de Bolsonaro escolheu o capitão
da reserva do exército e hoje consultor da câmara Tarcísio Gomes de Freitas.
Ele tem formação em engenharia civil pelo Instituto Militar de Engenharia – IME – e já foi diretor do Departamento de Infraestrutura Nacional de Transportes
– Denit – no governo de Dilma Rousseff, do PT O Ministério da Justiça e Segurança
Pública vai ficar com Sérgio Moro, que dispensa apresentações. É o nome de maior
prestígio do futuro governo. Vai tentar reviver
o projeto de 10 Medidas pela Corrupção que foi enterrado pelo congresso em 2016.
Minha colega Mariana Schreiber, correspondente em Brasília, fez um vídeo
interessante analisando quais são esses super poderes que Moro vai ter enquanto
ministro. No Ministério, Moro será responsável pela segurança pública e
também terá o controle do COAF, que hoje está no Ministério da Fazenda. O COAF é o
órgão do governo que vigia todas as movimentações financeiras de grande
valor feitos no país Ele ajudou muito na Lava Jato e no
Mensalão e recentemente descobri movimentações suspeitas na conta de um
motorista de Flávio Bolsonaro, que é filho do presidente eleito. A gente tem
um link aqui nos comentários também explicando exatamente o que é essa
história. Moro também teve a sua cota de indicações do governo. Levará para a
Esplanada vários ex-colegas da Lava Jato Por exemplo, Maurício Valeixo, que vai
chefiar a Polícia Federal, e a delegada Erika Marena, que vai comandar o
Departamento de Recuperação de Ativos – DRCI. Aliás quem batizou a Lava Jato foi a Erika Marena. E não vamos nos
esquecer que Moro terá de cuidar de temas difíceis, como segurança pública e
imigração. O último ministro que Bolsonaro anunciou já neste domingo foi o do Meio
Ambiente. A pasta vai ficar com o advogado Ricardo de Aquino Sales.
Ele é filiado ao partido Novo, do ex- candidato presidencial João Amoedo. Este
ano, Sales tentou uma vaga de deputado federal por São Paulo, mas não foi eleito.
Ele foi secretário de Meio Ambiente do ex-governador tucano de São Paulo
Geraldo Alckmin. Sales é réu em uma ação civil pública ambiental de improbidade
administrativa, movida pelo Ministério Público de São Paulo, sem uma decisão
ainda. Para o Ministério de Minas e Energia, outro militar: Bolsonaro
escolheu o almirante da marinha Bento Costa de Lima. Ele se graduou na Escola
Naval no Rio de Janeiro e fez MBA na Fundação Getúlio Vargas. Na marinha, já
comandou o programa de submarinos, o Prosub, e o programa nuclear. Eu disse que eram
duas mulheres no primeiro escalão do Bolsonaro: uma é Tereza Cristina e a outra é
advogada e pastora evangélica Damares Alves, que vai chefiar a pasta de Mulher,
Família e Direitos Humanos Antes de aceitar o convite, ela era
assessora do senador evangélico Magno Malta, do Espírito Santo.
Damares vai também comandar a Funai, que cuida da questão indígena. Ela relatou em
entrevistas que foi vítima de um estupro aos seis anos de idade, que a impediu de ter filhos Foi uma experiência traumática que moldou o
ativismo de Damares. Ela nem sempre fecha com todas as pautas conservadoras:
é, por exemplo, contra a legalização do aborto, mas também contra a redução da
maioridade penal. O médico Luiz Henrique Mandetta, deputado federal pelo DEM do
Mato Grosso do Sul, será o ministro da Saúde. Ele foi secretário de Saúde da
prefeitura de Campo Grande. É investigado por suposta fraude em licitação, tráfico
de influência e caixa 2. Nada disso foi concluída até o momento. Quando ele foi
escolhido, Bolsonaro disse que era uma escolha do setor de Saúde. Bolsonaro e Mandetta eram também vizinhos de gabinete na Câmara dos Deputados.
Era com Mandetta que Bolsonaro tirava dúvidas sobre a área de Saúde antes de
dar uma entrevista ou de fazer uma live no Facebook, por exemplo. O PSL, partido de
Bolsonaro, terá três ministros no futuro governo:
um deles é o deputado federal Marcelo Álvaro, que este ano se elegeu pelo PSL
de mMnas para o seu segundo mandato. Ele vai comandar o Ministério do Turismo e
faz parte da bancada evangélica do Congresso. Tem 44 anos de idade e já foi
vereador em Belo Horizonte Ele também começou o curso de Engenharia
Civil, mas não terminou. E aqui a gente conclui os ministros da Esplanada. Eles vão
trabalhar naqueles 17 prédios quadradinhos, iguais, que a gente vê nas
fotografias de Brasília. Paulo Guedes e Moro vão ter muito poder sim, mas bora
ver quem é que vai trabalhar literalmente do lado do Bolsonaro, no
Palácio do Planalto? No quarto andar do palácio, um andar acima do escritório de
Bolsonaro, fica o gabinete da Casa Civil Quem vai mandar ali é Onyx Lorenzoni, um
deputado federal do Democratas do Rio Grande do Sul, que está junto com o
Bolsonaro desde muito antes da campanha começar. Ele vai cuidar da
articulação com o Congresso. O chefe da Casa Civil manda no Diário Oficial, ou
seja, nos cargos do futuro governo e também é lá que o governo termina de
ajeitar os projetos que ele vai mandar para o Congresso. Onyx já admitiu ter
recebido R$ 100 mil não declarados do frigorífico JBS, como doação de campanha.
Essa prática se chama caixa 2 e é ilegal no Brasil. A doação foi em 2014, quando
ele se elegeu deputado pela quarta vez Agora, surgiu a denúncia de uma segunda
doação de caixa 2, também de R$ 100 mil, na campanha de 2012. O Supremo
Tribunal Federal autorizou uma investigação, a pedido da Procuradoria
Geral da República. A denúncia se baseia na delação premiada de executivos da JBS.
Mais um caso que está agora nas mãos da Justiça. Do lado de Onyx, também no
quarto andar, fica o escritório do general da reserva Augusto Heleno. Ele
vai comandar o Gabinete de Segurança Institucional – GSI. De todos os
militares do Planalto, Augusto Heleno é aquele que é mais próximo do Bolsonaro: foi instrutor dele na Academia Militar das Agulhas Negras, a Aman, na
década de 70 O GSI faz a segurança do Presidente e
também controla a Agência Brasileira de Inteligência – Abin.
Outro militar do Palácio: o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz,
que vai comandar a Secretaria de Governo Ele já chefiou a missão de paz da ONU no
Haiti, a Minustah, e a Secretaria de Segurança Pública do Ministério da
Justiça no governo do Michel Temer. Ele é considerado um linha dura e, assim como
Onyx, vai cuidar da relação do governo com o Congresso. O último ministro
palaciano é o ex-presidente do PSL e advogado Gustavo Bebiano. Ele fez a
defesa de Bolsonaro quando o presidente foi processado pela deputada Maria do
Rosario, do PT do Rio Grande do Sul. Na Secretaria Geral, Bebiano vai cuidar do
programa de privatizações do governo, o PPI.
Além disso, ele vai fazer a ponte do governo com a sociedade civil e com os
movimentos sociais A gente não pode esquecer, é claro, do
vice-presidente: o general da reserva Hamilton Mourão. O Mourão já disse que ele
não quer ser um vice meramente decorativo, mas ainda não está claro qual
vai ser o papel dele no governo. Ele disse também que ele é como um irmão siamês
do Bolsonaro. É que ele, assim como o presidente, é o único que tem, em tese,
quatro anos garantidos no governo Ok. Esse é o meu primeiro… Bom, esse foi o
meu primeiro vídeo pra vocês aqui no… Bom, esse foi o meu primeiro vídeo para vocês
aqui no canal da BBC News Brasil e eu espero que vocês tenham gostado. Se você
gostou, não esquece de se inscrever no nosso canal, de apertar esse sininho embaixo
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Obrigado e até a próxima!
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